13 de fevereiro de 2011
Festival de Berlim tem o seu Dia 3D
Festival exibe três filmes no formato que muitos acreditam ser a tábua de salvação para a indústria do cinema
“O formato das entrevistas é o velho e ultrapassado cabeças falantes, com a câmera na cara do entrevsitado. Para quê então o 3D?”
A tecnologia tridimensional tem algo a contribuir com o cinema de arte? A pergunta ficou no ar hoje no Festival de Berlim, que exibiu, ao longo deste sábado (12), e em diferentes mostras, três filmes em 3D, formato popularizado por superproduções como Avatar e Toy Story 3, mas dirigidos por nomes que fizeram carreira fora do circuito comercial: os alemães Wim Wenders (Asas do Desejo) e Werner Herzog (Fitzcarraldo) e o francês Michel Ocelot (Azur e Asmar).
Único dos três títulos que concorre ao Urso de Ouro, a animação Les Contes de la Nuit, é dirigida por este último, veterano animador, que já brincou com a computação gráfica no desenho animado anterior, Azur e Asmar. O filme recorre à antiga técnica de animação de sombras (silhuetas negras contra panos de fundo colorido) para descrever os encontros de dois jovens e um velho animador que criam contos de fadas no interior de um antigo cinema de rua.
Les Contes de la Nuit aplica o novissímo 3D a uma das mais tradicionais técnicas de animação existentes. A sessão para a imprensa do filme, ocorrida no início da manhã de hoje, ficou lotada de jornalistas de várias gerações encantados com cinco contos construídos para agradar crianças de todas as idades. “Quero mostrar meu filme em todos os tipos de cinema do mundo, e não somente nos multiplexes, tipo de sala para o qual o 3D foi pensado”, adiantou Ocelot, durante a coletiva de imprensa, ao lado de seus produtores.
Ocelot recorreu à moral de um dos contos mostrados em Les Contes de la Nuit, sobre um jovem de uma tribo africana que opera pequenos milagres com um tambor mágico, que o elemento mais poderoso de um filme é sua história e não o modo como ele foi feito. “A mágica do garoto Tom-tom não está em suas mãos, no seu talento, e não no instrumento que ele usa”, garantiu o diretor. “O 3D é isso, apenas um instrumento de trabalho”.
Wenders escolheu a Berlinale para a estreia mundial de Pina, documentário sobre o trabalho da coreógrafa Pina Bausch, um dos grandes nomes da dança contemporânea, morta em 2009. Embora exibo fora de concurso, o novo filme do autor de Buena Vista Social Club , tributo ao grupo musical cubano homônimo, parece ter encantado a platéia de jornalistas na primeira sessão para a imprensa, que não arredou pé do Palácio do Cinema, a sala-sede do festival.
Durante o encontro com a imprensa, ao qual compareceram também Barbara Kaufman e Julie Shanahan, dançarinos da companhia criada por Pina Bausch, a Tanztheater, Wenders explicou que perseguia a ideia de fazer um filme sobre a coreógrafa há quase duas décadas. Já haviam filmado quatro espetáculos de Pina para o filme, A Sagração da Primavera: Café Muller, Kontakhof e Vollmond, quando a coreógrafa morreu de repente. “Num primeiro momento, o filme não fazia sentido sem ela mas, depois, percebi, junto os bailarinos da companhia, que devíamos um filme a Pina”, contou o diretor. “Mudamos o foco para os dançarinos, que foram seus instrumentos de trabalho, dentro e fora do palco, usando o mesmo método de trabalho de Pina, que era questionar, instigar e provocar aqueles que trabalhavam com ela”.
O diretor usou duas câmeras (que funcionam como os olhos esquerdo e direito que, combinados na projeção, simulam profundidade de campo) e uma grande grua para registrar os números de dança. A ténica dão tridimensionalidade aos corpos dos bailarinos e seus movimentos, mas exigiu paciência dos envolvidos no projeto diante do aparato. “A tecnologia evoluiu tanto ao longo período em que filmamos tudo que, no final das contas, conseguimos entrar nas coreografias do grupo sem atrapalhar o trabalho dos dançarinos”, explicou Wenders.
Já exibido no Festival de Toronto do ano passado, Cave of Forgotten Dreams, de Herzog, fez sua estreia na Europa dentro da programação de projeções especiais do festival. É um documentário sobre pinturas pré-históricas encontradas na França, as mais antigas de que se tem notícia. O resultado, no entanto, não parece ter agradado a todos os gostos. Uma jornalista austríaca saiu antes do final da sessão reclamando das escolhas feitas por Herzog. “O formato das entrevistas é o velho e ultrapassado cabeças falantes, com a câmera na cara do entrevsitado. Para quê então o 3D?”. Ocupado com outros afazeres, o diretor não veio a Berlim responder a essas e outras questões.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário